A Divina Comédia de Dante Alighieri

Uma Alegoria Metafísica (Esotérica) – Quattro Sensi + (3) – Por Volmer do Rêgo

Esta leitura (só mais uma) da Divina Comédia do poeta florentino Durante Alighieri – Dante – pretendeu ser abrangente, sem ser definitiva. Procurei historicizá-la, localizando contextual e temporalmente a poesia metrificada de Dante, toda escrita seguindo uma estrutura trínica, de acordo com a vocação franciscana, portanto religiosa do poeta, a fim de reforçar, como dizem autores do porte de Umberto Eco, o caráter polissêmico da obra, ou seja, sua incrível capacidade de arremessar tentáculos em múltiplas direções ao mesmo tempo, sem, contudo, perder os centros temáticos, ensejando diferentes interpretações, no tempo passado, pelo uso de seus conhecimentos históricos; inserido no presente (as ações e fatos envolvendo os homens e as instituições de seu tempo – contemporâneo ao poeta e que podem ser entendidas, guardadas as diferenças óbvias, ainda hoje), e apontando ao futuro, dadas às proximidades e a ‘imutabilidade dinâmica’ que o mundo experimenta na apropriação e manutenção das diversas formas de poder político, que assim podem ser resumidas, Quattro Sensi, sem revelar importância específica a uma ou à outra, o que define o conjunto unitário da obra:

Occitânia

a) poesia de amor com requintes trovadorescos, dedicados ao seu amor irresolvido com Beatriz Portinari, cujo estilo e ardor foram possivelmente adquiridos de seu contato com os poetas ‘libertinários’ provençais (Provence – cuja capital é Marselha) da região do Sul da França que praticavam a Langue D’Oc (língua da Occitânia);

Nicolau Maquiavel

b) crítica política – uma retrato da luta esganiçada pelo poder daquela região da Itália dividida em principados e republiquetas voláteis, mergulhada entre arengas de duques, príncipes, os papas e os nobres (o seriado de TV Os Bórgias é uma boa fonte de referências bastante aproximadas) interessados em colocar em prática, possivelmente, os ensinamentos de Maquiavel – O Príncipe, um manual clássico de conquista e manutenção do poder, a ser escrito cerca de 200 anos depois, aspecto do poema ao qual reputo características de previsões e protojornalismo;

Estado do Vaticano

c) crítica à Igreja Católica Apostólica Romana, seus desmandos e interferências, o que não deixa de localizá-lo dentro da esfera e da dinâmica política da época (ainda que Igreja e Império romano estivessem sempre politicamente juntos e atuantes.

Até hoje o Vaticano – interfere diretamente na política de muitos países, muito especialmente no Brasil e na América Latina, ainda que com requintes burocráticos, financeiros e administrativos que o aproximam de uma empresa de mercado);

Escolástica

d) retrato enviesado, talvez desfocado artisticamente da efervescência do Renascimento que se avizinhava e que de fato, já se instaurara em mentes e corações de pensadores, intelectuais e artistas da época (de fato, uma categoria só de homens), como uma necessidade de evolução cultural e renovação de valores, uma pretensa antítese do domínio feudal e da igreja da baixa medievalidade, cujo sentido poético é apontado no Purgatório.

Tenha-se em mente que neste lugar estão os que cometerem pecados sem intenção ou sem saberem – inocentes úteis – e que Dante, um cristão devoto crê que a sua religião com todo arcabouço intelectivo, filosófico e espiritual que a cerca, (eis como fundamenta junto com Tomás de Aquino e Egino de Collono) os princípios da Escolástica – é o único caminho da salvação humana. Dotado de densidade incomensurável, o poema coloca Dante, como ele talvez tenha pretendido, entre os maiores poetas das línguas latinas.

A Divina Comédia