No Inferno temos 33 cantos, sendo o primeiro, introdutório, A Selva Escura (segundo estudiosos trata-se da época da vida de Dante em que ele se achava perdido, sem outras perspectivas senão a fuga, sendo cassado e tendo de mudar-se constantemente de lugar, para a casa de amigos com sua família – mulher e quatro filhos, sem poder voltar à sua cidade). Essa selva era um lugar do qual o poeta se vê subitamente impedido de sair por três animais simbólicos e alegóricos – um leão, uma pantera e uma loba, esta última magricela e faminta (Dante deixa claro que a loba é uma alegoria à Cúria Papal e seus asceclas). Ao ver a sombra de uma pessoa entre as árvores ele pede socorro – é Virgílio, poeta que cantou a história e a fundação de Roma, inspirado nas tradições poéticas gregas da Odisséia e da Ilíada de Homero. Virgílio, a quem Dante chamará de mestre daí em diante e a quem dedica sensível respeito, é habitante do Limbo, uma espécie de ante-câmara do Inferno, e o acompanhará em todas as etapas da viagem que empreende ao Inferno e Purgatório atendendo a uma solicitação do Céu, do próprio espírito de Beatriz, a eterna amada de Dante.
Dante e Virgílio atravessando as águas do lago Estige de águas lamacentas. Pintura de Eugène Delacroix – Louvre – Paris
Nel mezzo del cammin di nostra vita
mi ritrovai per una selva oscura,
ché la diritta via era smarrita. (canto 1)
CANTO I – Na entrada do Inferno – (trecho)
“A meio caminho desta vida
achei-me a errar por uma selva escura,
longe da boa vida, então perdida.
Ah! Mostrar qual a vi é empresa dura,
essa selva selvagem, densa e forte,
que ao relembrá-la a mente se tortura!
Ela era amarga, quase como a morte!
Para falar do bem que ali achei,
de outras coisas direi, de vária sorte,
que se passaram. Como entrei, não sei;
era cheio de sono àquele instante
em que da estrada real me desviei.
Chegando ao pé de uma colina, adiante,
lá onde a triste landa era acabada,
que me enchera de horror o peito arfante,
olhei para o alto e vi iluminada
a sua encosta os raios do planeta
que a todos mostra o rumo em cada estrada…”
“Ao ver aquele vulto no deserto, “Piedade!” eu lhe gritei, “ouve os meus ais…”
Inferno – Canto I. (vs. 64/65)