Atarantado, o Conselho dos Cem decidiu chamar Dante para que, com sua sapiência e experiência (Dante já havia visitado Roma anteriormente em uma outra missão ao Papa), os aconselhasse no que fazer. Dante era guelfo por aproximação, seu pai era guelfo (agora um Negro), mas mantinha uma crítica severa ao papado, e cria, como muitos de seus companheiros que a Igreja deveria ficar afastada dos negócios do Estado. Embora preferisse manter-se à meia distância, Dante discretamente expressou com sincera convicção e isenção a opinião de que os líderes exaltados e radicais das duas facções deveriam ser temporariamente afastados do poder até as coisas se acalmarem, trégua indispensável para enfrentar o problema com alguma possibilidade de êxito, e o colegiado dos Priores acatou a ideia.
Mas, ao ser posta em prática, foram-se cometendo inúmeras injustiças por absoluta falta de ponderação das autoridades. Como sempre a corda arrebentou do lado mais fraco – Dante sugerira apenas que os líderes principais, quatro ou seis pessoas, fossem afastadas, mas a medida cautelar imposta pelos administradores alcançou inapelavelmente inúmeros elementos, e o pior, cassaram o líder dos Negros, Corso Donatti, e pouparam, inexplicavelmente, o principal condutor dos Brancos, Vieri de Cercchi. Entre os brancos atingidos, contudo, estava um grande amigo de Dante, o poeta Guido Cavalcanti, companheiro de noitadas, de recitais poéticos e filosóficos.
Um dos que mais o incentivaram em suas empreitadas poéticas. Estava armada a confusão e os adversários políticos de Dante Alighieri, principalmente os da família Adimaris, fizeram propalar ser ele o único responsável pelo desterro de tantos florentinos.
Guido morreu meses depois o que consternou ainda mais o autor da Comédia. Ia, desta forma, a pendenga se arrastando por novas vias quando o Papa Bonifácio VIII solicitou ao Rei de França, Felipe, o Belo, que enviasse seu irmão Charles de Valois, postado em Nápoles, à Florença, afim de estabelecer a paz e a ordem ali. O exército de Charles prontamente se deslocou para a região da Toscana e aquele movimento provocou uma enorme confusão na Florença de Dante. Os políticos em polvorosa decidiram chamá-lo novamente para, em mais uma embaixada à Roma, implorar ao Papa que retivesse o francês longe da cidade. Aborrecido, mas sem negar favor à sua cidade, Dante partiu em marcha acelerada, mas Charles de Valois já estava na porta da cidade e estabelecera seu quartel general no castelo de Frescobaldi.
Ali o francês iniciou negociações com os Negros de Corso Donatti, que lhe deram dez mil florins para que em troca os deixassem entrar com seus seguidores exaltados e armados em Florença, juntando-se aos inúmeros partidários que lá permaneceram. Praticando toda sorte de excessos, saques e violências, destituíram os Priores de seus cargos, dissolveram o Conselho dos Cem e constituíram novo governo. Abriram as prisões e libertaram todos os correligionários, dentre os de maior expressão e que não conseguiram deixar a cidade a tempo.
Dante, em Roma, soube da tragédia que se abatera sobre sua cidade e retornou sem mesmo ter com o Papa, mas teve de parar forçosamente em Siena, distante da sua cidade, onde ficou escondido, pois soubera também que uma vez no poder por força das armas, os Negros, movidos por recalques e sentimentos de vingança, encetaram cruel perseguição aos seus inimigos e instauraram sob rito especial e sumaríssimo processos à revelia que o condenavam por supostos delitos de falsidade e tráfico de influência à multa de 5 mil florins e ao exílio por 2 anos. E, se em três dias, não satisfizesse a pena pecuniária, sujeitava-se ao confisco de todos os seus bens. Ora, para Dante era impossível satisfazer à sanha de seus algozes.
Deixou-se ficar em Siena, mas soube mais tarde que novo julgamente e outra sentença se expedira, firmada pelo magistrado Messer Cante Gabriele de Gúbio, e que desta feita o condenara a “ser queimado vivo, com fogo, de modo que morra, se a qualquer tempo vier a cair em mãos e em poder da Comuna“. O fundamente agora era o de justamente “não ter-se apresentado o réu no prazo exigido nem ter pago a multa anterior, sequer comparecido para responder ao processo“.
A pena capital, imposta a Dante, fora extendida a mais 14 outros florentinos, e seguiu-se ao imediato confisco de seus bens, que não eram muitos, arrolados e entregues todos a Boccáccio Adimari, à época o atual administrador de Florença. Com tal desgraça sobre si o poeta se refugiou longe da sua cidade e aguardou o desenrolar dos acontecimentos à distância, com dor na alma e paciência, ingredientes suficientes para descortinar de vez seu gênio literário já amadurecido e ansiando apenas por um momento de paz para desabrochar definitivamente.