O canto de Roma
Publio Virgilio Marão – 70 a.C. – Grafa-se também Publius Vergilius Maro. Autor das Bucólicas e da Eneida – poemas que narram
a ficção da fundação de Roma e do surgimento do povo romano/italiano.
É considerado o maior poeta latino, e Dante dá-lhe a missão, em seu poema Divina Comédia, de ser-lhe guia no Inferno e no Purgatório.
De origem humilde e obscura Virgílio nasceu na Galia Cisalpina anexada
à Roma no segundo triunvirato. Seu pai teria sido oleiro ou agricultor e sua mãe chamava-se Magia Pola (talvez daí sua fama de feiticeiro na idade média). Mudou-se para Roma e lá estudou na escola do mestre retor Epídio, de onde saíram Antônio e Otávio, ambos futuros imperadores de Roma. Estudou com Síron, filósofo epicurista, mas não se filiou à sua doutrina. Tentou a carreira de jurista e político mas desistiu, seu negócio era a poesia. Conheceu Mecenas, ministro de Cezar Augustus e tornaram-se amigos.
Daí em diante gozou de admiração geral. Eram seus amigos todos os grandes da época – Horácio, Propércio, Ovídio, Vário, Tuca, Messala etc.
Consta que foi Gaio Gilnio Mecenas, o ministro milionário, amigo das artes e dos artistas, muito próximo ao imperador Otávio Augusto, o principal emissário junto a Virgílio, levando-lhe os recados do que o todo-poderoso de Roma desejava que o poeta compuzesse.
Que o vate enaltecesse a vida rural, bucólica, digna dos verdadeiros patrícios bem como os magníficos feitos dos antepassados ilustres. Que, igualmente, desse à classe dirigente romana uma origem nobre que não fosse aquela versão popular deles serem descendentes da loba (a loba dos lupanares, a prostituta), coisa primitiva, decadente e selvagem que desmerecia a raça de senhores – oligarcas, ricos e poderosos – que os romanos haviam se tornado.
Virgílio, chegou a ler para o próprio Augusto dois ou três capítulos dessas coisas encomendadas, quando os dois se encontraram em Atenas, num verão fortíssimo, mas o poeta morreu em seguida, na volta, arrasado por um febre no ano de 19 a.C. Cumpriu porém com a tarefa depois de dez anos de labuta. Os romanos se deliciaram em saber pela “Eneida” de Virgílio que a região do Lácio, onde a cidade cresceu, havia pertencido ao bravo guerreiro Enéias, um mitológico herói troiano que escapara do desastre da queda da sua cidade, para vir lançar os fundamentos daquele potência que viria a ser Roma. Logo, Augusto era o herdeiro daquele colosso, “seu derradeiro fruto”, enquanto cabia a Roma a tarefa de dirigir as raças e as coisas do mundo. Tudo fantasia do poeta, mas inchou o patriciado local de vaidade e soberba.
O fim a que Virgílio se propôs ao empreender a feitura da Eneida, em latim AENEIS, foi aquele que norteou a República Romana e que se sintetizava em três palavras – virtus, justitia, pietas – o seu humilde começo. É evidente a influência do poeta grego Homero na composição da Eneida – A Ilíada e a Odisséia são suas fontes de inspiração. Roma dominou a Grécia e dela importou seu modus poético.
A Eneida é uma composição poética em doze livros que narra o surgimento da nação romana. No dizer de Carlos Alberto Nunes, in Os Brasileidas, Ed. Melhoramentos, SP, pag. 45 – 1962 – “Poderíamos resumir numa fórmula sucinta as diferenças entre as duas formas de intuir o mundo, dizendo que a visão artística de Homero é espacial e estática, e a de Virgílio se desenrola no tempo. Por isso mesmo, esta é mais abstrata, razão de perderem em relevo, tantos os episódios quantos os personagens do poema, quando comparadas com as de Homero.
É que todas as figuras da Eneida se subordinam a uma idéia geral, que determina a feitura do poema até nas menores particularidades: o propósito, claramente formulado, de cantar a grandeza de Roma e de exaltar a sua missão superior, de dominadora dos demais povos. Daí a impossibilidade, para Virgílio, de dar autonomia às partes de sua narrativa, e daí, também, o menor relevo de suas criações, quando comparadas com as de Homero, por serem todas elas concebidas como integrantes de uma idéia superior. É essa idéia que importa conhecer, para ficarmos em condições de fazer justiça à Eneida, como criação poética de originalidade dificilmente comparável.“
Fonte – Guglielmo Ferrero – Grandezza e decadenza di Roma – Milano, 1902/1907