(trecho) por Dante Alighieri
I – 1. Não encontrando ninguém que, antes de nós, tivesse falado sobre a doutrina da eloqüência vulgar, e vendo que a eloqüência é necessária a quase todas as pessoas, e não apenas os homens, mas também as mulheres e as crianças procuram conquistá-la se a natureza o permite; e também desejando iluminar as inteligências das pessoas que andam pelas ruas como cegas, a maioria achando que as coisas anteriores são posteriores; inspirado pelo Verbo divino, tentaremos ser útil à linguagem do vulgo: não apenas utilizando a água de nosso engenho para fazer a bebida, mas adquirindo e compilando dos outros, dando coisas melhores para beber, para podermos daí servir o hidromel dulcíssimo.
2. Porém, não sendo preciso provar cada doutrina, mas esclarecer a sua idéia, para que todos saibam do que se trata, dizemos, de imediato reagindo, que chamamos língua vulgar à que as crianças aprendem com seus familiares, tão logo balbuciam as primeiras palavras: ou, abreviando, chamamos de vulgar a linguagem que adquirimos sem nenhuma regra, apenas imitando a ama.
3. Também existe uma outra linguagem, para nós secundária, que os Romanos chamam de “gramática”. Também os Gregos e outros, mas não todos, possuem esta linguagem secundária; mas poucos conseguem habituar-se a ela, pois somente o tempo e a assiduidade no estudo nos preparam para ela, e desta forma a aprendemos.
4. Entretanto a vulgar é a mais nobre das duas, ou porque foi a primeira usada pelo gênero humano, ou por todos a empregarem, embora dividida em vocábulos e construções diversas, ou ainda porque ela nos é natural, sendo a outra de preferência artificial. Nossa intenção é tratar da linguagem vulgar, a mais nobre.
II – 1. Esta é a primeira linguagem, e verdadeira: mas nem toda linguagem pode ser chamada “nossa”, pois há uma outra linguagem, que não a do homem; mas de todos os seres que existem, somente ao homem foi permitido falar, pois só ao homem foi a fala necessária. Não houve necessidade de que os Anjos e os animais inferiores falassem, pois seria inútil lhes conceder este privilégio, e a natureza tem aversão a gestos inúteis.
2. Mas se considerarmos com atenção nosso objetivo quando falamos, veremos ser ele apenas esclarecer aos outros os conceitos da nossa mente. Por terem os Anjos uma suficiência intelectual mui pronta e inefável para exprimir suas concepções gloriosas, pela qual se manifestam reciprocamente per se totalmente, ou pelo menos por aquele espelho fugidio no qual todos se refletem muito belos, e miram-se com deleite, parece não terem nenhuma precisão de linguagem.
3. E se alguém objetar com o argumento dos espíritos que prevaricaram, podemos responder de duas maneiras. Primeiro: quando tratamos do que é necessário ao bem estar do homem, devemos deixar de lado estes maus espíritos, porque não aceitaram a tutela divina. O segundo argumento, melhor, é que os próprios demônios, para manifestar entre si a sua perfídia, precisam saber apenas alguma coisa deles mesmos, por que existem, sua quantidade; e o sabem, pois se conheceram uns aos outros antes de sua queda.
LÍNGUAS ITÁLICAS/Línguas românicas – LATIM – De origem indu-européia, na península o latim foi o que mais se destacou. Classificado em dois grandes grupos – o latino-faliscano e o osco-úmbrico assim designados como referências às duas línguas principais, incluindo dialetos menores da região central. O osco e o úmbrico têm maior aproximação gramatical com o latim, na sua estrutura, mas a fonologia e o vocabulário são discrepantes. Já o faliscano é atestado por algumas poucas inscrições encontradas ao norte de Roma, em Falérios.
Por ser a língua falada em Roma o latim se expandiu com a força política do império, primeiro na própria Itália e em seguida no Mediterrâneo e por toda a Europa, acompanhando a expansão e as conquistas romanas. O grande período literário do latim iniciou-se ao fim do século 3 a.C. , estendendo-se por 400 anos , mas há inscrições de latim desde o século 6 a.C. . Por volta do século 9 d.C. o latim literário, e o coloquial ou vulgar, já se distinguiam fortemente dos vários dialetos românicos falados em diferentes regiões da Europa. Sua influência deve-se a dois fatores primordiais – o predomínio político e cultural da antiga Roma e o fato de ter-se tornado a língua oficial da Igreja Cristã no Ocidente. Ainda hoje, por convenção, os termos científicos, médicos e jurídicos são empregados em latim.
As línguas românicas, derivadas do latim, são faladas hoje por mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo. São cinco línguas nacionais – por ordem de importância numérica: espanhol (280 milhões de pessoas falantes em 19 países), português (185 milhões de pessoas falantes em 7 países), francês (66 milhões de pessoas falantes em 5 ou 6 países, mas é a língua oficial da diplomacia), italiano (na Itália e seus dialetos, o florentino é considerado o padrão oficial do país) e o romeno, falado por 27 milhões de pessoas na Romênia, Moldávia e partes da antiga União Soviética, com assimilações do eslavo e do turco.