Uma Alegoria Metafísica (Esotérica) – Quattro Sensi + (3) – Por Volmer do Rêgo
Oh! vós que tendes o intelecto saudável
Atentai para a doutrina que se esconde
oculta sob o véu dos versos estranhos…
Retrato de uma Época
Ambientação
Três forças lutavam pelo poder em Roma – a casa dos Habsburgs, imperadores alemães, a casa de França e seus reis católicos e a própria cúria romana, lideradas pelo Papa e seus cardeais. Além disso os próprios italianos que tinham enorme interesse em suas próprias terras, claro! Todos pretendendo ser os representantes vivos dos césares romanos, imperadores eternos de Roma. O poder, a riqueza em jogo eram incomensuráveis. Roma era a capital do mundo (do Ocidente, pelo menos). Contudo, uma onda de violência se estendia por toda a península italiana e a bota vivia em polvorosa, resultado das inúmeras arengas entre várias facções interessadas no poder.
A Itália era uma concha de retalhos políticos e interesses diversos entre as várias regiões que a formavam (como os estados brasileiros que vivem num constantemente tenso e frágil pacto federativo), e cada uma delas tinha um governante e autonomia para gerir seus negócios como quisesse, devendo respeito e tributos ao papa e ao imperador.
Florença era uma das cidades mais importante da região da Toscana. Uma população ativa e diligente dedicava-se às atividades comerciais e ao artesanato, e sua elite propendia com o mesmo furor e entusiasmo às artes e às letras, o que projetava a cidade no cenário cultural da época, muito embora fosse ofuscada por outras rivais mais antigas da região. Geograficamente, sua posição privilegiada facilitava o intercâmbio com os portos de Gênova e Nápoles, e era ponto de parada terrestre obrigatória para os que vinham de países além Alpes – especialmente Alemanha, Áustria, Suíça e França.
Neste cenário nasceu, entre 15 de maio e 15 de junho de 1265, o poeta Durante (“Dante” como ficou conhecido) Alighieri, filho de Alighiero di Belincione Alighieri e Donna Bella, descendentes de um tal de Cacciaguida, cavaleiro valoroso, paladino papal morto em 1148 numa cruzada na Terra Santa, no séquito de Conrado III. Cacciaguida casara-se com uma Alighieri di Ferrara, de quem se originu o nome de Dante. Quando, porém, este nasceu, sua família já estava bastante decadente, tanto que seu pai vivia do dinheiro que emprestava a juros, agindo como um médio agiota.
Signori Belincione, pai de Dante, era um funcionário público do estado florentino, pertencente a média/baixa nobreza local, e Guelfo por inspiração política, partidário da autonomia da República e ao mesmo tempo da incolumidade do papa. Curiosa situação, difícil de manter, pois as duas forças – reis e padres – viviam se engalfinhando pelo poder, ainda que um decidisse sobre o poder temporal e outro sobre os desígnios espirituais.
Os Guelfos lutavam contra arqui inimigos: os Gibelinos, adeptos do poder unitário imperial e anti-papal, grupo, àquela época, liderado por Farinata Degli Uberti, sob a inspiração de Manfredi, filho bastardo do alemão Frederico II, Imperador do Sacro Império Romano, corporificado na Alemanha e na Itália, ambos, pai e filho, responsáveis por mais uma derrocada do exército florentino, ao fim de mais uma das constantes e sangrentas batalhas que se seguiam pelo poder local.
Em 14 de setembro de 1260 os Gibelinos impuseram seu poder aos Guelfos em Monteaperti depois de batalhas sangrentas, saques sistemáticos e implacáveis perseguições. Com os Guelfos fora do poder a família Alighieri viu o pai afastado de sua função pública e teve de se auto-exilar por cinco anos. A instabilidade política no país era uma constante na vida daquela gente.