Os Gibelinos estavam de volta à cena política da Itália e da Toscana e já haviam retomado Arezzo e Pisa, importantes cidades da região. Alistado na cavalaria Dante pode partir com mais quatrocentos cavaleiros em campanhas contra eles a meia distância destas cidades e foi recebido com festas e honrarias no retorno, após sitiarem um castelo por vários dias e obrigarem os inimigos a se entregarem sem resistência, acossados pela fome e pelo sítio. Durou alguns meses sua vida de soldado cavaleiro, de fato resumida a estas duas campanhas, e logo estava de volta, reinserido na vida civil e social de Florença. Nesta época interessou-se pela política internacional e a morte do imperador Rufdolf Habsburg da Alemanha deixou as coisas mais confusas ainda no Sacro Império Germânico-Romano, dividido entre os interesses da França de Carlos II D’Anjou, de Roma do Papa Nicolau III, dos próprios italianos e dos alemães.
Mas, o acontecimento mais marcante que se abateu sobre ele foi a morte inesperada e prematura de sua musa amada Beatriz Portinari, aos 24 anos de idade, sem que a nenhuma doença ou enfermidade grave pudesse ser-lhe imputada culpa. Foi um golpe terrível, a ponto de o desespero desnorteá-lo quase que completamente e fazê-lo caminhar também para a morte. Ficou enfermo por muitos dias. Entrementes, como sói acontecer às coisas do coração, a dor passou, diluiu-se aos poucos e com o tempo, voltando à normalidade pode terminar os últimos versos de sua A Vida Nova, de onde já se percebem os acentos mágicos e transcendentes que constituíram a tônica de sua Divina Comédia.
Daí em diante ele decide não mais falar sobre Beatriz até alcançar a perfeição e o domínio completo sobre a poesia e, seguramente, sobre a Langue D’Oc, para poder exaltar o seu amor por ela com palavras jamais proferidas a respeito de qualquer outra dama (e de política, ressalte-se). E de fato silencia. Seu mutismo é permeado de estudos profundos sobre filosofia, línguas, religião, política e outros conhecimentos importantes. Pouco tempo depois seu texto La Vita Nuova já alcançara a fama. Dante já era falado e conhecido por outros poetas e intelectuais da Itália. Suas posições políticas também alardeavam sua fama.
Jovem adulto vai estudar em Paris (embora quase não haja registros sobre esta sua passagem) e lá fica por pouco tempo graças aos seus limitados recursos – não teve a fortuna de seu contemporâneo Tomás de Aquino, filho de nobres, que lá estudou até formar-se doutor. Depois vai à Bolonha e estuda filosofia clássica, escolástica, ciências naturais, direito e medicina.
Dotado de tantos conhecimentos, e com certa fama já plantada nos meios influentes da cidade é chamado para tomar assento no Conselho dos Cem, o poder legislativo local, e mais tarde para compor a mesa dos priores, administradores da cidade que se dedicavam por dois meses (tempo que durava cada convocação e mandato) a cuidar dos assuntos administrativos – uma espécie de órgão supremo do executivo da cidade. Ao cabo deste seu mandato retoma o assento no Conselho dos Cem desiludido com as querelas políticas e com o fracasso de uma das tantas missões do legado pontifício em que se envolveu.
Desta feita o Papa Bonifácio VIII mandara o cardeal Mateus d’Acquasparta acalmar os ânimos das duas eternas facções antagônicas florentinas – Guelfos e Gibelinos -, agora simplesmente denominados Negros e Brancos, e novamente engalfinhadas na luta pelo poder. Ambas as lideranças receberam o cardeal com pompas e honrarias na tentativa de atraí-lo para sua causa, mas a atitude do inspetor papal causou profunda irritação em todos – sua sugestão foi dividir igualmente o poder entre as duas facções rivais, propondo como fórmula de entendimento a constituição de um governo em que ambas as partes se fizessem representar igualmente, adotando-se o mesmo critério para o provimento dos demais cargos públicos.
A coisa esquentou quando insinuaram que o emissário papal já viera deliberado a apoiar os Negros, no interesse da política de Bonifácio VIII que temia o ressurgimento da força gibelina antipapal na Toscana. Foram vários os protestos e num tumulto de rua, entre os conflitos das duas forças, grupos exaltados marcharam ao palácio episcopal, onde o cardeal se hospedara, e ali manifestaram seu repúdio à solução proposta com pedradas e flechadas (disparadas por arqueiros misteriosos) arremessadas contra as janelas do prédio. O cardeal ficou indignado ante o ultraje e o atentado contra à sua vida, e deu por encerrada a missão. As autoridades florentinas tentaram, por todos os meios, dissuadí-lo deste propósito. Apresentaram-lhe sinceras desculpas, prometeram punir os culpados exemplarmente, e diz-se que, inclusive, enviaram-lhe uma urna de prata repleta de florins de ouro. Mas, nada demoveu o irritado cardeal que, após aceitar e guardar para si o fausto presente, retornou à Roma.