Desde sua extrema mocidade Dante vira desenrolar-se na Toscana e por toda a península italiana aquele espetáculo permanente de divisões e lutas fratricidas, de que procuravam tirar partido os oportunistas e ambiciosos representantes da casa de França e seus aparentados alemães.
A Itália, sob o aspecto político, não era um povo, uma nação, mas um arquipélago de supostas soberanias enfrentando-se improficuamente, umas às outras, e entregues cada uma delas também, internamente, a divisões devastadoras, à falta de um poder de controle que assegurasse a unidade e ditasse normas estáveis de comportamento àqueles inquiteos conglomerados regionais.
O pensamento da unidade italiana começava a se impor como a única via possível para superar aquele quadro de antagonismos estéreis e de lutas sangrentas, que a nada de proveitoso poderiam conduzir.
Três sentimentos fortes se apoderavam então de Dante e se formavam subrepticiamente em sua mente atormentada pela política e pelas injustiças às quais fora submetido: no plano prático a vontade de ver a Itália unificada, poder retornar a Florença e escrever a Divina Comédia. De fato, todo o texto é permeado por estes sentimentos e encimados por seu amor platônico e eterno por Beatriz Portinari. Nessa época, antes mesmo de tê-la concluído, já era considerado o maior poeta italiano vivo (lera trechos da Comédia e de outros textos seus para vários personagens importantes da Itália que souberam-lhe reconhecer o mérito e o talento), e sua fama só não fora aceita em sua própria cidade natal, Florença, que curiosamente o queria de volta sim, mas cobrava-lhe uma multa e exigia-lhe a retratação, além de um pedido formal e público de perdão ante os senhores priores instalados no poder.
O costume local obrigava os criminosos a vestirem uma túnica branca e em público, num dia especialmente marcado para um perdão geral, suplicar aos priores que lhes desculpassem os erros passados, como faziam os governadores romanos na Judéia, à época de Cristo, com os criminosos comuns. Do humor daqueles líderes dependeria a aceitação ou não do pedido. Ora, Dante não suportou o ridículo da idéia – “Se é assim que admitem minha volta a Florença, jamais haverei de voltar!” Sua honra e altivez o mantiveram distante de sua terra natal até o dia da sua morte.
Dante Alighieri morreu em Ravena aos 56 anos de idade, vitimado por uma febre que minara-lhe todas as suas resistências, após várias viagens até Veneza. Pediu para ser sepultado trajando um hábito franciscano.